sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Num cavalo branco

Trigger Warning: estupro



 Num cavalo branco


     Ele é um cara bacana, o sonho de toda mulher de esquerda. Estudante de ciências sociais, fuma um de vez em quando, defende o feminismo, tem barba. É engajado e frequenta os coletivos.

     Ele toca violão e faz artesanato. Ele discursa contra o capitalismo e fala de mundos melhores onde não existirá pobreza e todos serão iguais. Ele discursa sobre amor livre e encanta as garotas que estão descobrindo sua liberdade.

     Hoje é dia de festa de rua. Ele se encontra com o pessoal e começa a beber e conversar. Discutem política e falam de bandas desconhecidas. Discretamente ele começa a observar seu ambiente. Há muitas garotas bonitas. Algumas das quais ele já se cansou. Na roda de conversa dele tem uma caloura muito interessante. Gostosinha, com ar de bobinha, inocente.

     Ele consegue separar ela das amigas e começa a jogar o jogo. Ele fala sobre suas viagens, fala sobre os livros que leu, sobre as pessoas que conheceu. Ela parece se encantar e sorri. Quando ela faz uma observação, ele a corrige citando textos obscuros que ele sabe que ela não vai conhecer. Sabe que precisa fazer ela se sentir mal.

     Vai empurrando mais cerveja. Quando percebe que ela já está tonta decide agir. Começa a falar sobre liberdade sexual, sobre como as mulheres livres transam quando bem entendem. Convida ela para ir na república dele, que fica ali pertinho. Diz que quer conversar melhor, diz que ela é diferente das outras e que ele quer se aproximar dela.

     Entram no quarto, ele coloca um som e senta com ela na cama. Diz que ela é muito bonita, coloca a mão na perna dela. Percebe que ela está dura, olhando para baixo, mas continua mesmo assim. Aproxima seu rosto do dela e a beija. Ela se vira mas ele vira o rosto dela de volta e o segura enquanto continua o beijo. Deita ela na cama e começa a sentir seu corpo. Ela tenta empurrar ele, mas não é forte o bastante e não está sóbria o bastante para conseguir. Ele a penetra e ignora o choro baixinho que escuta.

     Faz o que tem que fazer e sai de cima. Se irrita com o choro dela, se irrita com o sangue na cama dele. Chama um táxi e joga ela dentro. Entra no quarto e acende um. Está tranquilo. Ela não vai reclamar. E se reclamar não vai dar em nada. Todo mundo sabe que ele é um cara bacana, o sonho de toda mulher de esquerda.