terça-feira, 15 de maio de 2012

Na Festa


Um homem o interrompeu quando foi cumprimentar o homenageado. Sua mão ficou no ar por alguns segundos. Fez papel de tolo. Aquele não é o seu lugar.
            Agora está em um canto do salão. As aparências o obrigam a permanecer por mais 45 minutos.
            Ele não pode continuar no canto. Pareceria solitário e alguma alma caridosa, julgando-o uma criatura patética, iria puxar conversa: “E aí, tá gostando da festa?”, “Será que chove?”. Isso não deve acontecer.
            Decide disfarçar indo comer alguma coisa. No caminho é obrigado a se desviar de algumas pessoas.
            A mesa está bem sortida. Ele planeja seu curso de ação enquanto belisca cuidadosamente, sabendo que o menor descuido lhe dará fama de glutão.
            Os grupos de conversa parecem tão leves, divertidos, fechados. Não pode simplesmente abordar um. Talvez com uma pergunta? Mas o que faria quando tivesse a resposta?
            – E aí, tá gostando da festa?
            – Hã... Sim.
            É a oportunidade perfeita. Basta sustentar a conversa por algum tempo. Mas como?
            – Então...
O homem já está ficando entediado. Tem que dizer algo interessante agora!
            – Vou ao banheiro.
            Perdeu-o. Agora tem que encontrar outra pessoa. Tentar recomeçar a conversa o faria parecer pegajoso.
            Aproxima-se discretamente de um grupo. Eles discutem o clima. Cuidadosamente ele prepara um comentário espirituoso.
            – M...
            – Um minuto de sua atenção, por favor.
            Fica paralisado. O anúncio o interrompeu na primeira sílaba. Será que perceberam?
            A conversa recomeça e ele não sabe se está no grupo. Fica parado. Algumas pessoas o observam discretamente. É um intruso. A boa educação os impede de expulsá-lo.
            Um milagre! A conversa volta ao ponto em que estava antes do anúncio. Ele tenta. Sucesso! Todos riem. Algumas pessoas passam o comentário adiante. Agora basta ficar perto do grupo. Foi aceito.
            O grupo avança lentamente em direção à mesa. No caminho ele é obrigado a se desviar de alguém.
            Uma a uma as pessoas se sentam. Falta uma cadeira. Seria trabalhoso demais conseguir outra. Espera-se que ele saia.
            – Acho que posso conseguir outra no...
            – Mas o...
            – Não é necessário.
– Que nada, eu vou lá e...
– Não. Eu não ia poder ficar mesmo. Até mais.
– Tchau.
“Estúpido! Idiota! Imbecil!” Devem estar rindo dele agora mesmo.
Ele vaga pelo salão. Por razões que a própria razão desconhece, uma mulher se aproxima.
– E aí, tá gostando da festa?
– Hã... Sim.
Sua presença lhe acalma o espírito. Ela tem uma voz agradável. Exala certa leveza quando fala.
A voz parece lhe hipnotizar. Ao despertar ele percebe que estava encarando os seios da moça.
“Estúpido! Idiota! Imbecil!” Terá percebido?
A conversa flui bem. Ela ri dos seus gracejos desajeitados. A boa educação lhe obriga a ser simpática.
Se ao menos ela reclamasse. Ele poderia dizer: “E pode me culpar?” Os dois ririam. Ele pareceria moderno, liberal, divertido. Se tivesse uma acusação poderia se defender.
– Para... – Ela diz rindo enquanto ajeita os cabelos e lhe empurra o ombro suavemente.
É o golpe de misericórdia. Ela o despreza. Depois da festa a história vai se espalhar. “Estúpido! Idiota! Imbecil!” Será universalmente conhecido como um porco. “Estúpido! Idiota! Imbecil! Chega!”
Ele sai do salão, humilhado. A moça fica confusa, mas logo encontra outra distração.