terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Aula de sociologia

Continuação do projeto "Não foi uma bad trip"

Aula de sociologia

8h15min. A aula de sociologia vai começar.

Alice está no fundo da sala com seus amigos. Os rapazes estão rindo da cara do emo da sala. Eles acham ridículo o nível de viadagem do cara. Ele está sempre rindo no meio das garotas. Que bicha!

Em pouco tempo eles deixam esse assunto de lado e começam a conversar. Maurício puxa um pêlo da perna de Tcheco, que revida com um tapa na genitália dele. O grupo ri e começa a discutir sobre a própria genitália. Paulo chega na sala e mostra para todos uma foto que tirou do José no banheiro. Todos riem e brigam para olhar a foto. José entra na sala. Mais golpes que miram a genitália. O grupo segura Paulo para que ele receba o seu castigo. O assunto passa para as conquistas sexuais dos presentes. Um deles fala uma frase ambígua que poderia ser interpretada como sinal de homossexualidade. Os outros fazem piadas. Começam a falar sobre motos. Para incomodar Fábio (e apenas para isso), Fabrício brinca de acariciá-lo. As piadas recaem sobre Fábio.

O grupo de jovens heterossexuais continua se agarrando no fundo da sala. O professor passa um trabalho em grupo. Alice faz um trio com duas colegas.

A Marcela é uma safada, mas Alice e Beatriz não ficam muito longe. Marx falou sobre relações de trabalho. Beatriz viu uma guria muito puta numa festa. Ela usava uma saia muito curta. Dava para ver “os gomos da bunda”. As garotas riem dessa expressão. Durkhein falava sobre fatos sociais. A guria era muito puta, isso é um fato. Mais risadas. Será que o emo já leu “o suicídio”? O esmalte de Alice está descascando. Outro dia Marcela derrubou um vidro de esmalte. Weber nasceu em 1864, provavelmente o mesmo ano em que o professor nasceu. Todas riem. É divertido chamar o professor de velho.

Toca o sinal para o intervalo. Todos se levantam e entregam os trabalhos. Eles não precisam mais ficar ali e tentam sair o mais rapidamente possível.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

_Eu não confio em ti. Não confio na tua expressão neutra, não confio na tua voz condescendente, não confio nas tuas frases prontas e não confio em nenhuma das outras ferramentas com que foste treinada para lidar com os problemáticos. Isso não é uma declaração de desprezo. É simplesmente a constatação de falta de confiança, falta da presunção de boa-fé que seria necessária para continuar esta conversa.

_ Entendo. E por que você sente isso.

_ Continuar falando iria legitimar esta situação.

_Como assim?

_ Continuar falando iria legitimar esta situação.

_ Entendo, você está com vergonha de falar.

_ Não. Eu simplesmente não quero legitimar esta situação.

_ Entendo.

Não, não entende. Ele sabe disso. No momento em que ele começou a falar ela já tinha decidido que ele tinha um problema e que ela sabia como resolvê-lo. Qualquer coisa que ele falasse seria interpretada de forma a apoiar o diagnóstico. Aquilo não era uma conversa nem um julgamento, era uma condenação.

Na verdade ele gostaria de falar com alguém. Alguém que não fosse como aquela mulher.

Ele gostaria de falar sobre os horrores e maravilhas que vê. Falar sobre o prazer de descobrir as próprias forças, de jogar com o que o mundo lhe oferece. A miríade de possibilidades e combinações que ele sente ao seu alcance. O sufoco que ele sente ao contemplar brevemente tudo aquilo que poderia ser. Também falaria sobre a angústia, a falta de sentido, a palidez do mundo quando comparado com suas possibilidades. O aperto, a falta de ar, a raiva incontrolável diante do desperdício...

Mas não falaria com aquela mulher. Nunca.