sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Então a pequena criatura sorriu, pois essa era a sua natureza. E o homem se sentiu triste, pois assim lhe fora ensinado.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sede

“Sede” é uma necessidade causada pela necessidade de beber. O nosso corpo precisa de água. Quando ele está sem, temos sede.

Quando precisamos, quando ansiamos, quando desejamos além da racionalidade, isso se chama “sede”.

Aquele que tem sede está “sedento”. Quando se está sedento, faz-se tudo para matar a sede. A razão não caminha ao lado do sedento. A sede é a sua lógica, o seu caminho, a sua fé.

“Sede” é a segunda pessoa do plural do imperativo de verbo “Ser”. Um imperativo, uma ordem que não pode ser ignorada, algo necessário.

“Sedento” é aquele que procura ser.

“Sede” é um imperativo.

domingo, 23 de outubro de 2011

Eu não escrevo crônicas

Eu não escrevo crônicas

Sou brasileiro, gosto de escrever, tenho um blog, não escrevo crônicas. Deve ter algo errado comigo.

O Brasil é o país das crônicas. Não conheço nenhuma pesquisa sobre o assunto, mas não seria arriscado dizer que a Crônica é um dos gêneros mais bem sucedidos do nosso país. Nenhum compromisso, nada muito pesado. Uma risadinha ali, uma reflexãozinha aqui. O jornal se fecha e seguimos com nossas vidas. Não temos saco para ler nada mais longo ou mais pesado do que uma crônica.

Eu faço uma distinção entre quatro tipos de crônicas: auto-ajuda, absurdista, sorrisinho e cult.

A crônica de auto-ajuda procura o efeito “é mesmo...” nos seus leitores. Ela costura uma historinha com algumas frases de livros de auto-ajuda e dá ao leitor a sensação de ter aprendido mais sobre a vida. De todos os tipos de crônica, essa é a que tem os leitores mais fiéis. São pessoas que todo domingo abrem o jornal e vão ler a Fulana de Tal ensinando a viver. Depois, usam frases dela em uma conversa e se sentem bem consigo mesmos.

Na crônica absurdista, o objetivo do autor é provocar a reação “que absurdo” nos leitores. Aqui, entram as crônicas que falam sobre males sociais como a miséria do povo e os salários dos políticos. Elas servem para satisfazer aquela necessidade de indignação do povo brasileiro, sem que ele se sinta forçado a fazer nada (afinal, a culpa é do poder público).

A crônica sorrisinho é a mais popular de todas. O autor conta uma historinha engraçada e faz alguns comentários. Dificilmente isso provoca gargalhadas, mas o sorrisinho é sempre garantido. Embora possa parecer menos importante, seu poder de melhorar o humor das pessoas não deve ser subestimado. Millôr e L.F. Verissímo já aliviaram muitos espíritos com o poder do sorrisinho.

A crônica Cult é aquela mais difundida nos blogs. O autor conta de forma indireta algo de sua vida com frases como “às vezes a gente acha que o amor dura pra sempre”. Depois, ele expõe alguns devaneios poéticos. Esse tipo de crônica geralmente termina com alguma frase de efeito derivada de uma metáfora desenvolvida ao longo do texto. “E assim seguimos, perdidos em meio a castelos de cartas”. Embora esse tipo de crônica possa parecer um tanto masturbatória, é possível desenvolver trabalhos de algum valor literário. O problema é que, no meio de tantos adolescente chorões copiando letras de música, é difícil achar alguma coisa que preste. A superprodução desse tipo de crônica faz com que ela seja extremamente difícil de ser apreciada. Geralmente seus autores acabam restritos a blogs freqüentados apenas por seus conhecidos (entre os quais muitos têm blogs do mesmo tipo).

Eu gosto de escrever. Não sei bem por que. Gosto de trabalhar idéias, de encaixar palavras. Gosto da sensação de encontrar a frase perfeita para um parágrafo. Desconheço brinquedo mais interessante que a atmosfera de um texto. No entanto, não costumo escrever crônicas.

A grande vantagem de escrever crônicas é a relação com o público. Ninguém tem paciência para ficar lendo contos. Poemas só interessam quando vêm com um nome famoso embaixo. A crônica é a única coisa que a maioria das pessoas se prestaria a ler na internet. Talvez seja uma das únicas coisas que as pessoas possam realmente gostar de ler na internet.

Porque nunca escrevi crônicas? Bem, nunca pensei em um público. Cyril Connolly disse: “Better to write for yourself and have no public than to write for the public and have no self.” Uma tradução porca seria: “É melhor escrever para si mesmo e não ter público do que escrever para o público e perder a si mesmo.”. Eu nunca tive ilusões quanto a ter um público. Sempre preferi contos e microcontos. Nunca escrevi crônicas.

Mas agora tenho um blog. Um blog que não é lido, claro. Mas não deixa de ser um blog. É um desafio que aceitei: escrever como se tivesse um público. Está sendo divertido, mas não posso dizer que esteja fazendo direito. Mesmo fingindo ter um público, continuo escrevendo para mim mesmo. Continuo obtendo prazer somente na escolha de palavras, confecção de frases, organizações estruturais, jogos conceituais e todo tipo de masturbação intelectual.

Eu não escrevo crônicas. Coloco aqui apenas resultados de meus jogos. Aceitei o desafio de escrever como se tivesse um público, mas mantenho aqui um antro de porrinhas metafóricas das mais desinteressantes. Mesmo tendo consciência disso, continuo curtindo. Deve ter algo de errado comigo.

[Finais alternativos:]

1-E você, já parou para pensar no que escreve?

2-E isso irá continuar assim até que o poder público pare de gastar com obras inúteis e comece a investir onde realmente é necessário.

3-É... onde esse blog vai parar... Até a próxima. Abraço!

4-E assim, sabendo da irreversibilidade de meus atos, encerro mais uma punheta em meios a meus castelos e quimeras.

domingo, 9 de outubro de 2011

L'amour

L’amour

Alice está toda faceira. Meio que rolou um clima entre ela e o Jonathan. Eles conversaram um pouco e ele perguntou se ela ia à festa de quinze anos da Isabela. Agora, Alice está escolhendo roupas na frente do espelho. Preto nunca falha, mas o vestido verde é mais descolado. O maldito cabelo não para no lugar! Ela se acalma. Coisa ridícula ficar toda nervosinha por causa de um guri.

Acontece que esse não é um guri qualquer. É difícil dizer. Ele é meio bonitão, legal, underground, mas sem ser chato. Todas as gurias querem ficar com ele. Mas ele foi falar com Alice. Toda garota gosta de se sentir especial.

A hora se aproxima. Preto ou verde? Verde ou preto? Um dilema. Ela testa combinações de brincos e roupas. Se eles vão dançar é melhor colocar um sapato confortável, mas o salto alto aumenta as chances deles ficarem...

Chega a hora. Vestido verde, salto médio e brinco de argola.

A festa é no salão do clube. O lugar está cheio de balões e enfeites. A aniversariante está super maquiada. A festa começa depois dos rituais cafonas. Jonathan ainda não chegou, mas Alice não desanima. Ela fica conversando/dançando com as amigas. Por que será que ele ainda não chegou?

Alguns adolescentes aproveitam para beber mais do que deveriam. A aniversariante tira fotos. Os parentes mais velhos começam a ir embora. Agora a festa tá liberada.

Jonathan chega. Muita calma nesse momento. Alice não quer bancar a pegajosa. Ela finge que não viu e espera alguns minutos.

Ela começa a se preparar para abordá-lo. Murilo chega na festa de vai cumprimentá-la. Ele é um baixinho orelhudo que tem um moicano e vivia pedindo para ficar com Alice. Ultimamente ele desistiu, mas continua falando com ela.

— Oi Alice.

— Oi.

Abracinho rápido. Algo acontece. M. se afasta, mas Alice continua parada no meio do salão. Ela sente como se... É difícil explicar. É como se o seu coração se expandisse, como se bombeasse ar ao invés de sangue. A imagem de M. fica na sua cabeça. Ela olha para ele, mas parece que não é o bastante. Ela consegue vê-lo, mas força os olhos, como se precisasse enxergar mais claramente. Seu coração bate rapidamente e se expande com o fluxo de ar ao mesmo tempo em que é apertado por alguma força invisível. Murilo, que nome...

Lili percebe a mudança no rosto da amiga.

— Iiiiii. Ta com uma cara de que vai ficar com o Murilo.

Alice anda por entre as pessoas. Ela não precisa abrir caminho, é como se elas não existissem. Murilo está tomando um guaraná no canto do salão. Ele deixa o copo na mesa quando Alice se aproxima.

— Lembra que tu disse que quando eu quisesse ficar contigo tu ia estar disponível? Ainda tá de pé?

É estranho. Alice geralmente é muito segura nesse tipo de situação. Mas agora ela se sente frágil. Murilo fica pasmo.

— Hãã... Claro!!!

Eles se beijam. Murilo é um tanto desajeitado, mas ela não percebe. Era essa a sensação que ela esperava do primeiro beijo. Era isso que ela procurava: essa sensação de sufocamento, essa vontade de entrar dentro da boca da outra pessoa, essa... coisa maravilhosa.

Eles riem. Não é um riso cômico, é uma manifestação espontânea de alegria. Seus rostos ainda estão próximos. Murilo segura a cabeça de Alice e fala entre beijos:

— Eu não acredito que isso tá acontecendo! Eu... Eu... Eu esperei tanto por isso e...

Alice não fala. O peso em seu peito é esmagador e delicioso. Eles vão para a rua. Ela sente o ar frio contra a pele. Isso é...

Murilo se ajoelha e fala com as mãos juntas:

— Por favor, namora comigo?

É a primeira vez que eles ficam, mas ela não precisa pensar.

— Sim!

Murilo fica extasiado. Os dois sorriem e aproveitam o momento. A noite avança. O arrebatamento começa a dar lugar à ternura. É tão bom...

Eles já conseguem conversar um pouco. Combinam de se encontrar no Parcão no dia seguinte.

Chega a hora de se separar. Se pudessem continuar só mais um pouquinho... Alice não pode perder a carona. Eles se separam. A caminho de casa ela pensa naqueles momentos. É tão bom... E tão ruim... “Nunca contentar-se de contente”, Alice não entendia essa frase antes.

Flashes - Cenas do começo de uma adolescência

Flashes

Cenas do começo de uma adolescência

Ficando – Parte I

Uma grande sala retangular, luzes, decoração, uma canção de amor adolescente. A pista de dança está quase vazia. Os jovens se aglomeram pelos cantos. Alice chega com Cristiane. Elas conversam um pouco e se espalham. Alice já tem um alvo para está noite: Ricardo, o irmão da Talita, primo do Rodolfo e amigo do anão. Ela começa a se aproximar. No caminho, é interrompida por Murilo

— Oi.

— Oi — Alice tenta não ser muito grosseira.

— Fica comigo?

— Não — Alice continua o seu caminho. Paciência tem limite.

Já é a milionésima vez que Murilo tenta ficar com ela. Será que o cara não entende? Ela não vai ficar com ele. Não importa quantas vezes ele peça.

Alice chega até o seu alvo. Eles se beijam algumas vezes. A festa acaba e Alice vai para casa.

Dever

Alice está preocupada. Ela vai falar com sua mãe.

— Mãe, eu não tenho que fazer catequese?

— Se quiser fazer tu faz.

— Tá, mas a mãe de todo mundo obriga. Tu não vai me obrigar?

— Não, se tu quiser fazer tu faz.

— Mas eu não tenho que fazer?

— Olha, eu não fiz, ninguém aqui fez. Por que tu vai ter que fazer?

— Ahh, sei lá.

Alice sai. A liberdade tem um gosto estranho.


Ficando – Parte II

Murilo se aproxima.

— Fica comigo.

— Não.

Alice se afasta. A festa está chata. Ela se encosta na parede e fica bebendo um guaraná. Ela achou que o Camilo ia ir na festa, mas ele não apareceu. Murilo se aproxima.

— Não!

O jovem parece frustrado.

— Quer saber! Eu não vou pedir mais. Quando tu quiser, estarei disponível.

Quem sabe agora ele a deixe em paz.

Camilo chegou. Ela espera um pouco. Ele se aproxima. Eles se beijam algumas vezes. A festa chega ao fim e Alice vai para casa.

Ficando – Parte III

Alice e suas amigas entram na festa. As quatro fazem companhia umas para as outras enquanto a ação não começa. Lentamente o grupo se dissolve. Pelo menos seis garotos tiveram sorte nessa noite.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Seleção

Esta é uma história sobre vida e morte. A história de um povo em busca da felicidade. Mais do que isso, é uma história sobre escolhas, justiça e decepção.

Mas estou me adiantando. Vamos começar do princípio.

Antes de qualquer coisa, existe a Empresa. A Empresa é boa. Sem Ela todos estariam perdidos. Devemos todos fazer nosso melhor para não incomodar a Empresa. Nós precisamos Dela, e Ela não precisa de nós.

A Empresa é grande, muito grande. Maior do que podemos imaginar. Em seus vastos corredores — vastíssimos, devo dizer — vidas e fortunas são negociadas, vendidas e perdidas.

Realmente não é possível exagerar quando se fala da quantidade de informação que circula pela Empresa. Cada negócio — e esses são muitos — gera tamanha quantidade de papel que mais de uma faxineira desavisada já desapareceu entre as pilhas de arquivos.

A Diretoria comanda a Empresa. Todos confiam em sua sabedoria.

É difícil manter a ordem. Para ajudar nessa tarefa, a Diretoria conta com os conselhos de sábios de todas as partes do mundo.

Os sábios são homens misteriosos que sempre trazem um sorriso no rosto. Eles encantam a Diretoria com histórias sobre qualidade e liderança. Também trazem presentes: adesivos, sistemas de organização e palavras mágicas que fazem as coisas funcionarem.

A Diretoria se sente confiante quando escuta os conselhos dos sábios. Ela faz questão de ordenar aos funcionários que os executem, mesmo quando isso não é prático.
São tantas planilhas, adesivos, palavras mágicas, metáforas de animais e reuniões sobre essas planilhas, adesivos, palavras mágicas e metáforas... Enfim, uma grande confusão. Se os funcionários fossem realmente usar todos esses métodos de economia de tempo, não haveria tempo para mais nada.

Assim, quando a Diretoria não está olhando, eles deixam de lado a maior parte desses enfeites, guardando apenas aquilo que faz parte do bom senso.

Nesse turbilhão de papéis, encantos e negócios, o tempo passa. Pessoas crescem, morrem, e são substituídas.

A substituição é um assunto importante. A Empresa quer que todas as vagas sejam preenchidas por funcionários da melhor qualidade. A Diretoria quer o melhor para a Empresa, e confia essa importante tarefa aos sábios.

Hoje é dia de seleção. Uma multidão de desafortunados faz fila e aguarda a inspeção. Três são os sábios que irão fazer isso hoje: Dr. Mesmer, Circe e Minos. Eles são os maiores especialistas no assunto. E a Diretoria confia completamente neles para fazer a melhor escolha.

A fila começa a andar.

Dr. Mesmer começa suas medições. Através de um método estritamente científico ele é capaz de explorar as profundezas da mente de cada amostra. Assim, determinando os que seriam funcionários de boa qualidade. É um processo complexo. Primeiro, ele analisa a forma como a amostra se senta, determinando assim suas habilidades matemáticas. Depois, efetua uma série de medições cranianas que permitem descobrir sua estabilidade emocional. O processo continua com a análise da caligrafia, a Grafologia, e da posição dos astros, a Astrologia. Por fim, o bom doutor estuda as vísceras de um pássaro morto. Todos esses dados são anotados e passam por uma análise cuidadosa feita com a ajuda de um gabarito. Terminada a correção, basta consultar uma pequena tabela, que contém todos os tipos de personalidade possíveis.

A Srta. Circe não precisa de todos esses dispositivos. Sua técnica misteriosa permite que ela olhe para alguém e enxergue além das aparências, enxergue sua verdadeira natureza. Na verdade, esse processo chega a ser aborrecido para ela. É tão fácil ver quem são os bons candidatos. Não há nenhum desafio. O primeiro tinha cara de burro; eliminado. O segundo era negro; eliminado. Gordos, altos, baixinhos, negros, pobres demais, ricos demais, negros, gays, travestis, negros, barbudos; eliminados. Finalmente um candidato interessante: usa óculos — deve ser inteligente — e fez a barba. Também não parece ser pobre — como são chatos os pobres — e não é rico o bastante para fazer exigências. Foi aprovado. Circe ficou tão feliz com o achado que também aprovou os próximos dez candidatos — exceto um negro e duas mulheres feias.

Minos é o menos interessante dos sábios — é provável que seja demitido em breve. Ele estuda as informações que tem de cada candidato e, em uma breve conversa, tenta descobrir se eles se encaixam no perfil da vaga. É um processo lento, chato, sem graça e que não dá garantias de que irá funcionar. Que diabos ele faz trabalhando para a Empresa?

A tarde passa. Cada um dos sábios escolheu seu candidato para apresentar à Diretoria.

Mesmer escolheu um espécime estupendo. Postura perfeita, caligrafia maravilhosa, Sagitário com ascendente em Libra.

Circe achou um rapaz com cara de inteligente.

Minos encontrou uma mulher que tem experiência na área e bons antecedentes.

A Diretoria aplaude a habilidade dos sábios e agradece pela sua colaboração. No entanto, filho do sobrinho de um dos membros está precisando de emprego. Solidariamente, a Diretoria ofereceu a vaga que estava sendo disputada.

Assim termina a jornada pela substituição. Certos de que a Empresa está em boas mãos Mesmer e Circe descansam tranquilamente.

Os dias passam. Em meios aos arquivos da Empresa, pessoas crescem, morrem e são substituídas. É bom trabalhar para a Empresa, ela é boa para mim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Smells Like a teen spirit

Alice virou Grunge. Desde pequena ela já ouvia Nirvana, mas agora é uma coisa séria. Ela não lava mais o cabelo, só passa talco. Gosta de andar por aí com um macacão sujo e os cabelos esbranquiçados. Alice é true, uma grunge de verdade.
Claro, ela só conhece Nirvana, mas nem por isso ela é menos grunge. Sua vida não poderia ser mais grunge: Ela vai para a escola, escuta Nirvana, faz bolo, escuta Nirvana, lê Harry Potter enquanto escuta Nirvana. Ela e as suas amigas grunge sabem agir como grunges, e isso que é importante para ser grunge.
No momento, ser grunge é comum. Alice conhece vários grunges, mas nem todos são true. Cristiane era uma poser, ao contrário de Alice e suas amigas. Nossa garota tem três parceiras: Lili, Paola e Rafaela. Juntas, elas formam um grupo muito unido. São grunges, são garotas, são amigas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fluxograma da sobremesa para solteiros

Depois do fluxograma do almoço/janta, apresento o fluxograma da sobremesa. Clique na imagem abaixo para dar zoom.

sábado, 10 de setembro de 2011

A receita universal

Olá,
Sou um jovem solteiro e moro sozinho. Aqui, compartilho a melhor receita alguma vez já elaborada. Clique na imagem abaixo para dar zoom.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O grande dia


Alice nunca ficou. Todas as suas amigas já ficaram. Praticamente todos que ela conhece já ficaram.
Não é que ela não tenha oportunidades. Alice simplesmente não tem vontade de ficar. No entanto, a situação já está ficando insustentável. Qual é o assunto das fofocas? Ficar. Para quê servem as festas? Ficar. O que as suas amigas fazem? Ficam. Alice se sente excluída. Também existe alguma curiosidade. Como será que é? Mágico? Divertido? Excitante? Enfim, chegou a hora.
Ela é abordada por Miguel.

— E aí, vai na festa da Raquel hoje?
— Vou — Alice ri.
— Então te vejo lá.
— Tá.

No mundo de Alice, esse tipo de conversa significa que os indivíduos irão ficar.
Miguel é o pegadorzinho da área. Aos catorze, ele já ficou com quase todas as gurias da escola. É um bom começo para Alice.

São 17h. A festa começa. As pessoas estão conversando na frente da casa. Alice está atrasada (nessa idade, as festas começam na hora). Miguel começa a perder a paciência e manda uma mensagem para Carina, sua atual ficante:

()”"() ()””()
( .”o o”, ) Queria falar contigo…
()”"()”()
( ö)ö ) ..

A garota fica animada. Alice chega na festa. Miguel percebe e envia outra mensagem para Carina:

Chegou alguém mais interessante.

Carina fica triste. Alice joga conversa fora com as amigas. Miguel se aproxima.

— Quer dar uma volta.
— Tá.

O coração de Alice começa a bater mais rápido. Carina chora. Todos na festa olham para eles. Miguel vai com Alice até o outro lado da rua. Chega o momento. Finalmente Alice experimentará a alegria de um beijo. Ela sente os olhos de todos em suas costas. Imagens de novelas e filmes passam pelos seus olhos. Seus lábios se preparam para o momento que ela estava esperando. É como se o próprio Tempo tivesse parado para assistir a intimidade dos dois jovens amantes. Seus lábios tocam os de Miguel rapidamente. É só isso?
Eles conversam durante alguns minutos. Miguel diz que tem de ir embora e deixa Alice na festa. Ela vai conversar com as amigas. Carina continua berrando.
Às 23h a mãe de Raquel encerra a festa. Alice vai para casa com a sensação de que foi enganada.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Everybody loves satan! ou Brincando com Pascal

Blaise Pascal nasceu em 1623. No livro “Penseés”, ele apresenta um argumento que supostamente demonstraria que acreditar no deus cristão era a melhor coisa que se poderia fazer. Até hoje, esse argumento ainda surge em discussões sobre o assunto.

Ele pode ser apresentado da seguinte forma:

Podemos acreditar ou não em Deus.

Deus pode ou não existir.

As combinações das possibilidades e suas conseqüências são as seguintes:






















Deus existe Deus não
existe
Acreditamos em Deus Felicidade Eterna Nada
Não
acreditamos em Deus
Sofrimento Eterno Nada




Logo, acreditar no deus Cristão seria a aposta mais segura, uma vez que não traria nenhum prejuízo e não excluiria a possibilidade da felicidade eterna.

Qualquer pessoa suficientemente esclarecida irá identificar facilmente as falhas desse argumento. Esse não é o meu objetivo aqui.

Proponho que aceitemos o argumento. Sim, acreditar em Deus é a melhor aposta. Mas como devemos adorá-lo? Que tipo de Deus é esse?

Tradicionalmente, dividimos deidades em três tipos: benignas, neutras e malignas. Para simplificar as coisas, vamos ignorar os deuses neutros (sua indiferença não afetaria o argumento).

Temos então duas possibilidades quanto a Deus: ou Deus é bom, ou Deus é mau.

Nós também temos duas alternativas quando ao nosso comportamento: ou veneramos um deus bom, ou veneramos um deus mau.

Vamos refazer a tabela:




















Deus é bom Deus é mau
Veneramos um deus bom Felicidade Eterna Sofrimento eterno. MUITO sofrimento. Se o Deus sumamente bom do cristianismo
condena
pessoas ao fogo eterno, imagine o que faria um deus maligno.
Veneramos um deus mau Um período de dor. Mas, como deus é infinitamente
misericordioso, seriamos
perdoados e atingiríamos a felicidade eterna.
O monstro está feliz conosco e não vai nos comer.

Ou seja, a melhor aposta é venerar um deus maligno. Esqueça as igrejas e a caridade. Vamos nos reunir em covis subterrâneos e sacrificar virgens. Vamos espalhar o caos pelo mundo, ouvir funk no ônibus, incendiar orfanatos. O deus bondoso nos perdoaria, o deus maligno nos aprovaria. Não há como perder.