sábado, 18 de fevereiro de 2012

_Eu não confio em ti. Não confio na tua expressão neutra, não confio na tua voz condescendente, não confio nas tuas frases prontas e não confio em nenhuma das outras ferramentas com que foste treinada para lidar com os problemáticos. Isso não é uma declaração de desprezo. É simplesmente a constatação de falta de confiança, falta da presunção de boa-fé que seria necessária para continuar esta conversa.

_ Entendo. E por que você sente isso.

_ Continuar falando iria legitimar esta situação.

_Como assim?

_ Continuar falando iria legitimar esta situação.

_ Entendo, você está com vergonha de falar.

_ Não. Eu simplesmente não quero legitimar esta situação.

_ Entendo.

Não, não entende. Ele sabe disso. No momento em que ele começou a falar ela já tinha decidido que ele tinha um problema e que ela sabia como resolvê-lo. Qualquer coisa que ele falasse seria interpretada de forma a apoiar o diagnóstico. Aquilo não era uma conversa nem um julgamento, era uma condenação.

Na verdade ele gostaria de falar com alguém. Alguém que não fosse como aquela mulher.

Ele gostaria de falar sobre os horrores e maravilhas que vê. Falar sobre o prazer de descobrir as próprias forças, de jogar com o que o mundo lhe oferece. A miríade de possibilidades e combinações que ele sente ao seu alcance. O sufoco que ele sente ao contemplar brevemente tudo aquilo que poderia ser. Também falaria sobre a angústia, a falta de sentido, a palidez do mundo quando comparado com suas possibilidades. O aperto, a falta de ar, a raiva incontrolável diante do desperdício...

Mas não falaria com aquela mulher. Nunca.

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