Um homem o interrompeu quando foi
cumprimentar o homenageado. Sua mão ficou no ar por alguns segundos. Fez papel
de tolo. Aquele não é o seu lugar.
Agora está
em um canto do salão. As aparências o obrigam a permanecer por mais 45 minutos.
Ele não
pode continuar no canto. Pareceria solitário e alguma alma caridosa, julgando-o
uma criatura patética, iria puxar conversa: “E aí, tá gostando da festa?”,
“Será que chove?”. Isso não deve acontecer.
Decide
disfarçar indo comer alguma coisa. No caminho é obrigado a se desviar de
algumas pessoas.
A mesa está
bem sortida. Ele planeja seu curso de ação enquanto belisca cuidadosamente,
sabendo que o menor descuido lhe dará fama de glutão.
Os grupos
de conversa parecem tão leves, divertidos, fechados. Não pode simplesmente
abordar um. Talvez com uma pergunta? Mas o que faria quando tivesse a resposta?
– E aí, tá
gostando da festa?
– Hã...
Sim.
É a
oportunidade perfeita. Basta sustentar a conversa por algum tempo. Mas como?
– Então...
O homem já está ficando entediado. Tem que dizer algo
interessante agora!
– Vou ao
banheiro.
Perdeu-o.
Agora tem que encontrar outra pessoa. Tentar recomeçar a conversa o faria
parecer pegajoso.
Aproxima-se
discretamente de um grupo. Eles discutem o clima. Cuidadosamente ele prepara um
comentário espirituoso.
– M...
– Um minuto
de sua atenção, por favor.
Fica paralisado. O anúncio o
interrompeu na primeira sílaba. Será que perceberam?
A conversa
recomeça e ele não sabe se está no grupo. Fica parado. Algumas pessoas o observam
discretamente. É um intruso. A boa educação os impede de expulsá-lo.
Um milagre!
A conversa volta ao ponto em que estava antes do anúncio. Ele tenta. Sucesso!
Todos riem. Algumas pessoas passam o comentário adiante. Agora basta ficar
perto do grupo. Foi aceito.
O grupo
avança lentamente em direção à mesa. No caminho ele é obrigado a se desviar de
alguém.
Uma a uma
as pessoas se sentam. Falta uma cadeira. Seria trabalhoso demais conseguir
outra. Espera-se que ele saia.
– Acho que
posso conseguir outra no...
– Mas o...
– Não é
necessário.
– Que nada, eu vou lá e...
– Não. Eu não ia poder ficar
mesmo. Até mais.
– Tchau.
“Estúpido! Idiota! Imbecil!”
Devem estar rindo dele agora mesmo.
Ele vaga pelo salão. Por razões
que a própria razão desconhece, uma mulher se aproxima.
– E aí, tá gostando da festa?
– Hã... Sim.
Sua presença lhe acalma o
espírito. Ela tem uma voz agradável. Exala certa leveza quando fala.
A voz parece lhe hipnotizar. Ao
despertar ele percebe que estava encarando os seios da moça.
“Estúpido! Idiota! Imbecil!” Terá
percebido?
A conversa flui bem. Ela ri dos
seus gracejos desajeitados. A boa educação lhe obriga a ser simpática.
Se ao menos ela reclamasse. Ele
poderia dizer: “E pode me culpar?” Os dois ririam. Ele pareceria moderno,
liberal, divertido. Se tivesse uma acusação poderia se defender.
– Para... – Ela diz rindo
enquanto ajeita os cabelos e lhe empurra o ombro suavemente.
É o golpe de misericórdia. Ela o
despreza. Depois da festa a história vai se espalhar. “Estúpido! Idiota!
Imbecil!” Será universalmente conhecido como um porco. “Estúpido! Idiota!
Imbecil! Chega!”
Ele sai do salão, humilhado. A
moça fica confusa, mas logo encontra outra distração.
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