L’amour
Alice está toda faceira. Meio que rolou um clima entre ela e o Jonathan. Eles conversaram um pouco e ele perguntou se ela ia à festa de quinze anos da Isabela. Agora, Alice está escolhendo roupas na frente do espelho. Preto nunca falha, mas o vestido verde é mais descolado. O maldito cabelo não para no lugar! Ela se acalma. Coisa ridícula ficar toda nervosinha por causa de um guri.
Acontece que esse não é um guri qualquer. É difícil dizer. Ele é meio bonitão, legal, underground, mas sem ser chato. Todas as gurias querem ficar com ele. Mas ele foi falar com Alice. Toda garota gosta de se sentir especial.
A hora se aproxima. Preto ou verde? Verde ou preto? Um dilema. Ela testa combinações de brincos e roupas. Se eles vão dançar é melhor colocar um sapato confortável, mas o salto alto aumenta as chances deles ficarem...
Chega a hora. Vestido verde, salto médio e brinco de argola.
A festa é no salão do clube. O lugar está cheio de balões e enfeites. A aniversariante está super maquiada. A festa começa depois dos rituais cafonas. Jonathan ainda não chegou, mas Alice não desanima. Ela fica conversando/dançando com as amigas. Por que será que ele ainda não chegou?
Alguns adolescentes aproveitam para beber mais do que deveriam. A aniversariante tira fotos. Os parentes mais velhos começam a ir embora. Agora a festa tá liberada.
Jonathan chega. Muita calma nesse momento. Alice não quer bancar a pegajosa. Ela finge que não viu e espera alguns minutos.
Ela começa a se preparar para abordá-lo. Murilo chega na festa de vai cumprimentá-la. Ele é um baixinho orelhudo que tem um moicano e vivia pedindo para ficar com Alice. Ultimamente ele desistiu, mas continua falando com ela.
— Oi Alice.
— Oi.
Abracinho rápido. Algo acontece. M. se afasta, mas Alice continua parada no meio do salão. Ela sente como se... É difícil explicar. É como se o seu coração se expandisse, como se bombeasse ar ao invés de sangue. A imagem de M. fica na sua cabeça. Ela olha para ele, mas parece que não é o bastante. Ela consegue vê-lo, mas força os olhos, como se precisasse enxergar mais claramente. Seu coração bate rapidamente e se expande com o fluxo de ar ao mesmo tempo em que é apertado por alguma força invisível. Murilo, que nome...
Lili percebe a mudança no rosto da amiga.
— Iiiiii. Ta com uma cara de que vai ficar com o Murilo.
Alice anda por entre as pessoas. Ela não precisa abrir caminho, é como se elas não existissem. Murilo está tomando um guaraná no canto do salão. Ele deixa o copo na mesa quando Alice se aproxima.
— Lembra que tu disse que quando eu quisesse ficar contigo tu ia estar disponível? Ainda tá de pé?
É estranho. Alice geralmente é muito segura nesse tipo de situação. Mas agora ela se sente frágil. Murilo fica pasmo.
— Hãã... Claro!!!
Eles se beijam. Murilo é um tanto desajeitado, mas ela não percebe. Era essa a sensação que ela esperava do primeiro beijo. Era isso que ela procurava: essa sensação de sufocamento, essa vontade de entrar dentro da boca da outra pessoa, essa... coisa maravilhosa.
Eles riem. Não é um riso cômico, é uma manifestação espontânea de alegria. Seus rostos ainda estão próximos. Murilo segura a cabeça de Alice e fala entre beijos:
— Eu não acredito que isso tá acontecendo! Eu... Eu... Eu esperei tanto por isso e...
Alice não fala. O peso em seu peito é esmagador e delicioso. Eles vão para a rua. Ela sente o ar frio contra a pele. Isso é...
Murilo se ajoelha e fala com as mãos juntas:
— Por favor, namora comigo?
É a primeira vez que eles ficam, mas ela não precisa pensar.
— Sim!
Murilo fica extasiado. Os dois sorriem e aproveitam o momento. A noite avança. O arrebatamento começa a dar lugar à ternura. É tão bom...
Eles já conseguem conversar um pouco. Combinam de se encontrar no Parcão no dia seguinte.
Chega a hora de se separar. Se pudessem continuar só mais um pouquinho... Alice não pode perder a carona. Eles se separam. A caminho de casa ela pensa naqueles momentos. É tão bom... E tão ruim... “Nunca contentar-se de contente”, Alice não entendia essa frase antes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário